Em nosso primeiro Dia do Seguidor e na data que nosso amado velhinho nasceu há 103 anos, comemoramos sua vida eterna com aprendizados e memórias compartilhadas.
Em 31 de janeiro de 1918 nascia próximo de Turim, na Itália, Ghibaudo Orestes, que anos mais tarde viria a ser um dos grandes exemplos de amor, dedicação e fé do Segue-me Brasília. No último domingo, pela 1ª vez no Segue-me Brasília, comemoramos o Dia do Seguidor, para marcar mais ainda essa data especial. Assim continuamos a celebrar a vida do nosso velhinho, desta vez com uma festa que estende-se da terra aos céus, de onde ele nos olha e nos guarda. Para homenageá-lo, reunimos passagens de sua história e missão, com depoimentos emocionantes sobre aquele que será, para sempre, nosso presente de Deus.
Pe. Orestes viveu a infância e juventude na região de Abruzos, no centro da Itália, e recebeu a ordenação sacerdotal em maio de 1947. Alguns anos depois, em 1951, desembarcou no Brasil e se estabeleceu como missionário na cidade de Boa Vista, em Roraima, onde naturalizou-se brasileiro e participou da implantação da Escola Estadual Euclides da Cunha.
Foi transferido para Três de Maio, no Rio Grande do Sul, em 1954 e permaneceu prestando importantes serviços no segmento educacional como diretor do Ginásio Pio XII, além do exercício do ministério sacerdotal. Chegou em Brasília em 1986 com a missão de resolver questões administrativas no Colégio Paulo VI, que posteriormente transformou-se no Colégio JK e era propriedade do Instituto Missões Consolata (IMC).
Completada esta tarefa, Ghibaudo passou a atuar na paróquia Nossa Senhora Consolata, na Asa Norte, e iniciou a aproximação do movimento Encontro de Jovens com Cristo – Segue-me. Como morava na Casa Paroquial e era uma pessoa muito extrovertida, não demorou para integrar-se, principalmente com os jovens.
“Nós, eu e Maria, éramos um casal jovem em 1986 e nos encantamos por aquele sacerdote irrequieto que motivava todos com sua alegria contagiante” explica o seguidor Roberto Tenório, que junto à esposa Maria Tenório, já participava das atividades da Igreja desde 1984 e puderam receber o padreco. “Ele tinha uma vitalidade impressionante”.
Após a realização do 8º Segue-me da Asa Norte, aconteceu o desmembramento do encontro, que passou a ser paroquial com o objetivo de atender a grande demanda de jovens que desejavam participar. Como Pe. Orestes já tinha vínculo com o movimento, coube a ele, representante da Consolata, fazer a escolha de cinco casais para participar do Grupo Dirigente da Paróquia. Entre eles, Tenório e Maria foram selecionados para a função de Pós-Encontro.
Já na década de 1990 o padre foi designado pároco da Consolata, em substituição ao Pe. Atílio Scarpin. Nesse mesmo período, desenvolveu um importante trabalho pastoral e administrativo com o apoio do dedicado Conselho Paroquial – um dos destaques foi a implantação do movimento Encontro de Adolescentes com Cristo (VEM).
Em paralelo, ele desenvolvia gestões e trabalhava na estruturação do movimento pelo qual havia se afeiçoado. “Por todo seu esforço, dedicação e interesse foi designado Diretor Espiritual do Segue-me em Brasília”, explica o casal. Tio Tenório, que atuaram em várias atividades da paróquia durante alguns anos, compartilharam inúmeros momentos ao lado de nosso querido Ghibaudo Orestes. Sobre isso, adicionam:
“A convivência com o Pe. Orestes foi sempre muito salutar, pelo seu espírito de conciliação, fraternidade, paz e amor. Ele sempre foi muito agradecido pelas coisas que recebia dos paroquianos e amigos. Quando ganhava algum presente e ou recebia convites para restaurantes, aniversários e outros eventos ficava sempre muito agradecido e manifestava-se de forma efusiva e por longo tempo” – Tio Tenório e tia Maria.
Para a seguidora Cássia Dantas, o maior exemplo deixado por Orestes é o da doação, uma vez que abdicou de diversas coisas para amar a juventude e se dedicar ao serviço da Igreja, saiu da Itália para atender ao chamado de Deus e abriu mão de sua herança para viver esse amor.
Ela, que o conheceu em 2007 quando entrou para o movimento de jovens, e construiu um laço de amor e cuidado durante os anos que integrou a equipe do Conselho Arquidiocesano e da coordenação do encontro, também esteve ao lado do padre na noite anterior ao seu falecimento, que ocorreu em 20 de janeiro de 2020, quando tinha 101 anos.
“Aquilo foi tocante, mesmo com dificuldades na fala ele me respondeu que amava o Segue-me e rezamos juntos pela última vez. Guardo esse terço com muito zelo por ter sido nossa última forma de contato” – Cássia.
Na quarta-feira (20) completamos 1 ano de muita saudade do nosso querido padre Orestes e pudemos celebrar sua vida eterna em nossos corações na Santa Missa realizada na Consolata, repleta de boas lembranças e emoção. “Todas as músicas escolhidas ali representavam muito o que ele era nas nossas missas e encontros. Ele sempre conduzia a comunidade e os jovens e casais do movimento com muitos gestos e até arriscava uns graves no microfone! Sinto muita saudade, difícil não se emocionar e ter saudade do velhinho”, conta Cássia.
A saudade que sentimos é inevitável e imensa, mas ele também nos deixa muita força de vontade para perseverarmos na dedicação como seguidores e na missão especial da juventude: cuidar daquele que foi motivo de alegria, devoção e zelo para ele durante 30 anos, o Segue-me.
“Ele também fala assim ao fundo do nosso coração e deixa até hoje a importância de buscarmos a formação da nossa fé católica, mostrar o quanto a gente é feliz enquanto Cristão, com o nosso exemplo e testemunho. Quando ele dizia no final da missa a todos vocês uma semana maravilhosa, dizia o quanto é importante tornarmos nossa vida, a cada dia, maravilhosa, contagiar as pessoas e seguir mostrando ao outro como é maravilhoso seguir Jesus, cantar para Deus” -Júlia Mara.
Curiosidades sobre o Pe. Orestes
- Foi paraquedista e capelão militar antes de chegar ao Brasil.
- Aposentou-se como professor do estado do Rio Grande do Sul.
- Era de uma família de posses.
- Ingressou no Seminário somente aos 29 anos.
- Era músico e amante da música.
- Afirmava que precisávamos buscar a felicidade.
Dedicação à juventude de Brasília
A crença na juventude era uma forte característica de Orestes, percebida por diversos integrantes do movimento. “Ele sempre dizia que o futuro do mundo dependia da juventude e que ele sempre acreditou nessa juventude, caso contrário, ele não estaria à frente do Segue-me” afirma o casal Márcio Antônio e Maria Aparecida Rossi, que passaram a frequentar a Paróquia Nossa Senhora Consolata após a vivência do Encontro de Casais com Cristo e estiveram juntos com o padre em diversas iniciativas do Segue-me e de outros movimentos.
Engana-se quem pensa que a juventude é restrita à uma faixa etária. Orestes dizia que o envelhecimento era, na verdade, um acúmulo da juventude e que, além de mais experiência, os mais velhos têm mais tempo de juventude vivida. Da mesma forma, ele cuidava e valorizava a entrega e energia dos mais novos, que estavam iniciando a caminhada no movimento, e passou a destinar a missa das 19h da Consolata para toda a juventude do Segue-me.
Sua dedicação e disponibilidade para participar das reuniões e compromissos do Segue-me, que fazia questão de acompanhar mesmo com a idade avançada, servem de exemplo aos seguidores. Além disso, Márcio e Cida explicam que o padre sempre estava um passo à frente e que quando levavam algum assunto para ele, prontamente apresentava uma solução.
“O mais incrível dele era a humildade, pois às vezes ele nos repreendia sem estarmos errados, mas no dia seguinte, no primeiro horário, já ligava pedindo desculpas” – Tio Márcio e tia Cida.
Seguidora, Sabrina Gomes do Nascimento Correia conta que teve a honra de crescer dentro da Consolata e ter um padre que entendia a juventude como ninguém. “Adorava escutar ele falando que tínhamos que testar nossas convicções religiosas nas coisas do mundo, pois só assim teríamos a certeza que absorvemos tudo o que Deus quis nos ensinar. Ele falava: ser santo dentro da Igreja é fácil, quero ver santo nas coisas que o mundo oferece” relembra.
Para ela, o maior aprendizado que Pe. Orestes nos deixou foi sobre a importância da união entre jovens e casais, que pode salvar famílias e possibilita aos adultos a compreensão dos pensamentos dos jovens, e até de seus próprios filhos, assim como os filhos passam a entender algumas ações de seus pais. Sabrina via no padre um amigo para toda vida e acredita que não há um jovem que trabalhou com ele e saiu dessa experiência da mesma forma que iniciou, deixando evidente seu poder de transformação de vidas.
Maria e Tenório foram testemunhas das orientações práticas aos jovens que procuravam pela instrução do padre: “Sempre afável, mostrava caminhos seguros e objetivos”. Eles destacam que Orestes já era especialista no trato com jovens desde sua passagem por Boa Vista e no Rio Grande do Sul, onde tinha contato direto com a juventude e atuava como professor, orientador e diretor.
No Encontro de Jovens Com Cristo – Segue-me, ele foi importante desde que integrou-se à missão. Logo que começou a participar, criou uma forte empatia com o movimento, provavelmente devido a sua antiga convivência com os jovens dos colégios que trabalhou. O crescimento e atuação do Segue-me como um dos relevantes movimentos jovens de Brasília e várias outras regiões do país também estão associadas às ações deste sacerdote.
“O Segue-me tinha uma estrutura simples e não contava com nenhum controle diocesano. Não existiam os documentos básicos e havia muita variação na execução dos encontros pelas paróquias. Os jovens não tinham nenhuma participação na direção, e nem tinham voz ativa nas decisões. O Pe. Orestes preocupava-se com isso, mas achava que a juventude precisava amadurecer para assumir a responsabilidade pelas atividades: o que foi conseguido com o seu trabalho dedicado, em prol dos jovens”, afirma o casal.
Ao longo dos seus quase 30 anos de trabalho como diretor espiritual do Segue-me Brasília, o padre ainda incentivou e construiu iniciativas voltadas para o público ao qual tanto se dedicava. “Comigo e com a Júlia, além do Conselho Arquidiocesano e da equipe dirigente do Segue-me, ele ajudou, deu ideias e proporcionou para a juventude da Consolata e da arquidiocese o Semeando, escolas de formação para realização do encontro Segue-me, o Retiro de Liderança para os jovens, o Retiro da Santíssima Trindade, todas essas criações foram liberadas pelo padre Orestes. A gente levava essas ideias e ele abraçava e tocava com a gente. Muitas outras ele dava as ideias ou falava gostaria que fizesse isso, como foi como foi a Via Sacra”, explica Carlos Ramiro de Araújo.
Para sempre na memória dos seguidores
Líder e pai espiritual, que orientava com carinho, sempre sorrindo e brincando. São com palavras e sentimentos similares a esses que muitos integrantes do Segue-me Brasília descrevem o amado Padre Orestes. Apesar do consenso quanto ao seu papel como diretor espiritual, cada um pôde se conectar com o velhinho de diferentes maneiras.
“A gente é amante da música pois acreditamos que os anjos louvam a Deus cantando e também nos aproximamos muito do padre por conta da música, porque ele comungava da mesma ideia” conta o casal Júlia Mara Borges e Carlos Ramiro, mais conhecido como Miro, que durante anos cantaram e tocaram na missa da Juventude do Segue-me.
Do serviço no canto, um momento inesquecível surgiu. Para envolver a comunidade e aumentar o alcance das músicas era preciso um violão elétrico, que os integrantes não possuíam. Percebendo essa necessidade, Pe. Orestes mais uma vez mostrou-se à frente das situações e levou Miro para escolher um novo instrumento de evangelização.
“Toquei o violão, o preço era muito bom, aí ele falou tá certo, eu vou comprar. Se um dia você puder, você paga esse violão para mim!. No dia que fui pagar ele não aceitou, me deu o violão. É um violão que guardo com carinho espetacular. Esse é violão que toco nas missas até hoje, é o violão que posso dizer que tá comigo há quase 20 anos”, afirma. Além do violão, outro marcante momento para o casal foi a celebração de seu casamento, realizada pelo Padre Orestes, com quem conviveram e trabalharam desde os primeiros Segue-me Consolata.
Na memória da jovem Cássia estão marcadas as piadas que escutou do padre junto com Leandro Claudino quando integravam a coordenação do encontro e a última aparição pública de Orestes no Segue-me, quando recebia uma homenagem no Senado Federal com os olhos marejados e o semblante de felicidade e orgulho. A emoção com essa última imagem talvez seja unanimidade entre os seguidores que o admiravam e vivenciaram o episódio.
Como nosso velhinho sempre falava, a religião deve ensinar justiça, paz, amor e perdão. Por esse e tantos outros aprendizados, marquemos sua feição de alegria em nossos corações e convidemos uns aos outros a seguir regando e cultivando todas as sementes que ele plantou. Para o padre Orestes e Deus, que colocou no caminho do Segue-me Brasília esse exemplo vivo de fé, nossa eterna e imensurável gratidão!
Fontes: Tio Tenório, tia Maria, Júlia Mara, Miro, Bina, Cássia, tio Márcio, tia Cida, portal do Segue-me Brasília, portal do Instituto Missões Consolata.
Aos entrevistados, muito obrigada pela entrega e carinho, Equipe de Comunicação do Segue-me Brasília!
Outros depoimentos e testemunhos
“Vivemos algo diferente ao lado do velhinho, sempre um homem esclarecedor e de opinião, nos defendia, nos amava, brigava e puxava nossa orelha quando precisava! Guardo a lembrança de um irmão, de um pai espiritual e muitas vezes eu o enxerguei como um santo, pois sempre senti muita paz ao lado dele.”
“Ele foi um dos meus primeiros incentivadores. Quando fiz o Segue-me eu era meio maluco, não ia para missa, ficava à toa… de repente a gente faz o Segue-me, foi uma mudança muito grande, um divisor de águas. Quando fiz o encontro não era nem crismado, nem tinha a primeira comunhão, participei da missa sem comungar. O padre Orestes sabendo disso me chamou na sala dele e disse: mocinho você precisa fazer a primeira comunhão e eu tenho uma pessoa maravilhosa – e me colocou com a maravilhosa irmã Escolástica. Por causa do padre Orestes eu fiz a crisma e a primeira comunhão no mesmo ano. Tenho a Bíblia que eu ganhei da irmã Escolástica até hoje e todo o começo da obra evangelizadora foi do padre Orestes, que era ligado principalmente na evangelização dos jovens.”
“Foi muito emocionante ver o carinho do padre Orestes com meu pai. Quando soube que ele estava muito ruim (de saúde), mesmo sem poder ir fisicamente, fez uma coisa linda: um vídeo para o meu pai! Foi de uma sensibilidade que não temos palavras pra descrever. Ele não podia ir ao hospital pois estava com um problema no joelho, mas não pensou duas vezes e pediu pra Jana gravar um vídeo e mostrar. Esse vídeo fez toda a diferença na sua recuperação. Choramos todos e meu pai melhorou muito depois disso. Ele era assim: se não podia estar fisicamente, ele dava um jeito de pegar no colo cada pessoa que já trabalhou com ele”
“Em 2010 coordenamos o ECC e ao final o Pe Orestes nos disse: Mocinhos, gostei muito! Vocês vão trabalhar comigo, podem esperar! Fomos da Equipe Dirigente do Segue-me, Equipe Dirigente da 2ª e 3ª Etapas do ECC e por último no Conselho Arquidiocesano do Segue-me. Nas reuniões fora da Consolata, tínhamos o prazer de conduzir o Pe Orestes. Nestes momentos foram muitos aprendizados. Certa vez dissemos para ele que o nosso carro não tinha ar condicionado e que para o conforto dele, poderia ir com alguém que tivesse carro mais moderno. Fomos repreendidos de que para ele era mais importante a companhia do que o conforto.
Palavras dele: Mocinho se a religião não te faz feliz, não pratique! Deus não precisa de você, você é quem precisa de Deus!”
“Tenho uma lembrança maravilhosa do Padre Orestes, que era como um verdadeiro pai para mim e me apoiou na perda do meu pai mesmo. Ele foi na UTI dar a unção dos enfermos e no dia seguinte meu pai partiu, foi com muito carinho. Lembro como se fosse hoje: foi após a missa, ele nem jantou, ficou com fome, mas foi lá no hospital. Criaram dificuldade para ele entrar, mas quando o viram, parece que ele transmite aquela luz, aquele jeito dele de brincar, de falar… aí o pessoal foi abrindo o caminho como anjos e ele conseguiu fazer a unção. Fiquei muito feliz porque meu pai teve essa oportunidade antes de partir.
Padre Orestes contagiava a todos com seu carinho. Quando partiu, senti uma perda muito grande, como se tivesse perdido o meu pai biológico pela segunda vez, mas Deus mais uma vez confortou o meu coração, mostrando que a Mãe Consolata, tão amada pelo Padre Orestes, está comigo, reforçando a importância de permanecermos de pé diante das perdas e dificuldade, como ela ficou diante de Jesus na Cruz.”
“Ele acreditava nos jovens e apoiava suas iniciativas dando-lhes, contudo, as responsabilidades inerentes. Fomos testemunhas das orientações práticas aos jovens, que procuravam sua opinião. Sempre afável, mostrava sempre caminhos seguros e objetivos. Como missionário, sua missão junto aos jovens foi cumprida com louvor.”